Estava há quase quarenta minutos
dentro da banheira, tinha posto sais o suficiente para uma semana. Sentia-se
tonta, mas não tinha pretensão de sair de lá, preferia a vertigem a ter que
pensar no que havia acontecido em frente à estação. Seu peito era um turbilhão
de emoções, não sabia exatamente como se comportar, o que pensar, no que falar.
Seus longos cabelos acobreados brilhavam ígneos colados as suas costas, de vez
em quando passava as mãos, já murchas, por eles e tentava organizar seus
pensamentos. Não poderia passar o resto da vida dentro de uma banheira,
levantou-se e saiu enrolada na toalha em direção ao seu quarto. A casa estava
silenciosa, mesmo sendo domingo seus pais trabalhavam até tarde. Colocou um
pijama, pegou seu gato cor de âmbar e se deitou na cama. As cenas passavam
rápidas por sua mente, os sons, as palavras... “Eu te amo!” Adormeceu...
O
despertador martelava em seus ouvidos um zumbido estridente, ainda zonza de
sono ela desligou o pequeno aparelho enquanto via as horas. Estava atrasada,
muito atrasada. Levantou-se rápido, colocou o uniforme, comeu um pedaço de pão
e correu para fora de casa. Lá estava ele do outro lado da rua, escorado em um
poste de iluminação, a mochila pendendo de um ombro. Ele acenou. Subitamente
sentiu seu rosto ficar quente, as pernas perderam a rigidez habitual, ela
sentia-se estranha, novamente o turbilhão de emoções subiu em seu peito. Ela
caminhou em sua direção, o rosto afogueado, prometeu a si que agiria
normalmente.
- Bom dia Ann! – ele a cumprimentou
normalmente
- ... dia Matt – sua voz era quase um
sussurro.
Caminharam
em silêncio por quase quinze minutos, quando o garoto rompeu o silêncio:
- Ann, sobre ontem... eu... – tinha a
cabeça baixa e brincava nervosamente com a alça da mochila.
- Eu não sei como responder ainda
Matt... – ela se surpreendeu por falar tão claramente, suas bochechas estavam
vermelhas. – Estou pensando, mas meus sentimentos por você... eu...eu... não
sei...
- Ann, eu não... – ela não o deixou
terminar, começou a correr tão rápido quanto podia. O garoto ficou atônito com
aquilo, precisava explicar-se, o que ela havia dito os sentimentos dela por
ele... Não conseguia entender.
* * *
A
manhã passava arrastada, às vezes a garota olhava para ele de relance, sem
saber o que fazer, procurava respostas em sua mente, ela não conseguia
concentrar-se em aula, mais de uma vez seus professores chamaram sua atenção.
Sentia-se tão confusa, perguntava-se se realmente havia se apaixonado pelo
garoto que antes chamara de irmão...
* * *
As
coisas não iam como planejadas, de vez em quando podia sentir os olhos de
Anabelle. Tudo tinha saído errado, sua confissão, sua tentativa de se explicar,
tudo. Esperava poder esclarecer as coisas quanto o intervalo para o almoço
chegasse, às vezes comiam juntos, então usaria esse tempo para explicar os
fatos... “Meus sentimentos por você”, ela havia dito, será que ela sentia algo
por ele? Aquilo o deixou um pouco confuso, olhou vaziamente para frente e
encontrou os olhos de Ann. Parecia muito mais bonita que o normal, seus longos
cabelos cor de fogo brilhavam com a luz da manhã, sentiu-se um pouco
encabulado, seu rosto estava quente. Os dois desviaram o olhar.
Mais
alguns minutos até o intervalo, sua mente estava confusa... Porque desviara o
olhar? Eram amigos a mais tempo do que podiam lembrar, sempre trocavam olhares
assim em aula, fosse por algo que o professor disse, fosse por uma piada
contada durante a vinda para a escola ou qualquer colega fazendo palhaçada,
então por quê?
Não
conseguia entender. O sinal soou e resoluto, levantou-se e caminhou até a mesa
dela...